"QUEM FALA UMA LÍNGUA SABE MUITO MAIS DO QUE APRENDEU" (CHOMSKY)


segunda-feira, 12 de maio de 2014

TEXTO CONCEITUAL: GÊNERO NARRATIVO



  NARRAR É CONTAR UMA HISTÓRIA. O TEXTO NARRATIVO APRESENTA

ELEMENTOS ESSENCIAIS: ENREDO, ESPAÇO, PERSONAGENS, ESPAÇO, TEMPO.

ENREDO – A SEQUÊNCIA DE FATOS É O ENREDO, A HISTÓRIA QUE SE CONTA.                

O ENREDO DEVE APRESENTAR UMA SITUAÇÃO DE DESEQUILÍBRIO. O DESEQUILÍBRIO

É VIVIDO PELOS PERSONAGENS.

CLÍMAX- PARA PRENDER A ATENÇÃO DO LEITOR, O NARRA DOR AUMENTA

GRADATIVAMENTE A DRAMATICIDADE, A TENSÃO DA SITUAÇÃO, ATÉ ATINGIR O

CLÍMAX. MOMENTO EM QUE O CONFLITO CHEGA AO SEU PONTO MÁXIMO.

PERSONAGENS – SÃO SERES FICTÍCIOS, CRIADOS PELO ESCRITOR. AS PERSONAGENS

APRESENTAM CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS, COMO SE FOSSEM

PESSOAS DO MUNDO REAL. TEMOS PERSONAGENS PRINCIPAIS, SECUNDÁRIOS

PROTAGONISTA E ANTAGONISTA.


ESPAÇO – É O LUGAR, O ESPAÇO FÍSICO ONDE A AÇÃO DRAMÁTICA SE DESENVOLVE.


FOCO NARRATIVO – APRESENTA O TIPO DE NARRADOR

EM PRIMEIRA PESSOA

EM TERCEIRA PESSOA
TEMPO – O TEMPO EM UMA NARRATIVA PODE SER:
CRONOLÓGICO- É O TEMPO MARCADO PELO RELÓGIO

PSICOLÓGICO – É O TEMPO SUBJETIVO, MUDA DE INDIVÍDUO PARA INDIVÍDUO.

MARCA-SE PELAS SENSAÇÕES OU PENSAMENTOS

ASSUNTO :É A HISTÓRIA EM SI, A SUCESSÃO DE FATOS.

TEMA É O ASPECTO DA REALIDADE QUE O ESCRITOR DESEJA REVELAR, DEBATER,

QUESTIONAR, ANALISAR.

O GRALHA


O Gralha

            Não deu a eles o prazer de ouvir seu grito. Aguentou cada chibatada sem emitir um único som. Nas primeiras pancadas todo o seu corpo se contraía, mas após algum tempo a dor era tanta que não aguentava ficar em pé. Perdeu as forças e ficou pendurado pela corda amarrada ao pelourinho tomado por um ódio que só não era maior que o desejo de morte. O negrinho estava com a calça arriada, coberta por sangue e barro logo abaixo dos joelhos. Seus irmãos o olhavam com pena, medo e ira.
            E Maria não gritava mais.
            Antes de desmaiar tinha de vê-la novamente. Uma última olhadela para a mulher que amava. As poucas lágrimas que possuía escorreram frias como o corpo da escrava. Pediu aos orixás para que a mulher fizesse uma passagem tranquila e então se estatelou no chão quando o feitor desamarrou seus pulsos.
            - Deixa disso, homem! – havia dito Maria quando ele lhe dissera que fugiriam. – O S’nhorzim nos mataria se descobrisse que anda tendo essas ideias.
            - Não mataria não, tenho certeza – respondeu o Gralha – Porque ele nunca vai descobrir.
            E não tardou muito para o negrinho descobrir que estava errado. Quando o Coronel ficou sabendo mal tinham saído da fazenda. Maria fora estuprada na frente dele, logo depois morta e o Gralha apenas assistiu enquanto apanhava.
            - Gralha, chupe. – alguém lhe ofereceu um pedaço de cana depois que se recolheram para dormir – roubei do engenho hoje. Vai te dar um pouco de energia. – O escravo ficou realmente grato, mas não conseguiu identificar aquela alma solidária. Estava bastante escuro.
            Naquela noite, não sonhou com absolutamente nada. Fora uma noite escura e cruelmente dolorosa dentro da senzala. O enorme galpão de madeira não tinha nenhum tipo de divisão além das quatro pilastras que a sustentavam. A palha do colchão pinicava os ferimentos das costas do negrinho e as correntes que lhe prendiam os pés o impedia de vira-se para deitar de barriga para baixo. Resolveu então não se mexer, quiçá não doesse tanto. Entretanto, o miserável não pôde lutar contra a febre e os tremores que a peste lhe causava. No fim das contas, foi realmente uma péssima noite.
            Quando o galo cantou, a porteira da senzala se abriu. O fedor vindo das latrinas se espalhou com a corrente de ar. O feitor - um mulato entroncado de barba grossa - e o coronel Patrício adentram no alojamento. O coronel mandou todos os negros para o engenho e o Gralha foi levado para tratarem de suas feridas.  Enquanto era tratado viu de relance a mãe, mas não estava autorizado a falar com ela.
            Em menos um quarto de mês o negrinho já estava no engenho. As feridas demoraram um pouco a cicatrizar, mas a motivação havia lhe abandonado.
            Durante uma tarde de sábado foi pego de surpresa com uma visitante a muito sumida. Sua mãe era uma escrava como ele, mas trabalhava na cozinha e raramente podia visitar o filho. Embora fosse sempre bom vê-la, naquela tarde o ódio que o Gralha sentira no dia da morte de Maria retornou com tamanha força que se tornou impossível para o homem conter seus atos.
            Francisca fora uma negra bela quando jovem, sempre possuiu ancas largas e cabelos longos. Tinha olhos negros brilhantes que mesmo depois da velhice ainda mantinham o encanto, mas naquela tarde quando visitou o filho, os tais olhos estavam inchados, acima da sobrancelha havia um enorme corte, e os grossos lábios escuros estavam encobertos por uma crosta de lama e sangue seco.
            A mulher chorava e seus soluços a impediam de falar. O coronel vinha bêbado logo atrás com uma chibata na mão e um longo sorriso no rosto.
            - Um pouco de pinga, negrinho? – ofereceu com sarcasmo o velho Patrício.
            Sem uma palavra o Gralha pulou sobre o coronel e os dois começaram a rolar no chão. O capitão do mato deu um tiro para o alto e a confusão atraiu todo o engenho. O coronel desembainhou a arma da cintura e empurrou o escravo para longe.
            - Chegue mais perto e estouro seus miolos, mulato infeliz! – seu sorriso havia desaparecido. Olhou para o capitão – O que estava esperando para matar este imbecil?
            - Mato agora se quiser coronel! – respondeu apontando o fuzil para o Gralha.
            A garrafa de pinga que o velho Patrício segurava antes de toda a bagaceira estava caída no chão. Com um rápido giro da mais bela representação de capoeira o escravo chutou para longe a arma da mão do coronel e quebrou a garrafa de pinga numa pedra. Cravou o vidro na barriga do velho.
            O coronel desatou a rir descontroladamente enquanto cuspia sangue no rosto do negrinho.
            - Diga a ele, Francisca – murmurou – Vamos! Diga quem é o pai deste infeliz.
            Francisca ajoelhou-se aos prantos e começou a rezar o pai nosso. Gralha já sabia. Nada precisava ser dito. Era sua sina matar o pai. Era o que desejava desde criança.
            - Arda no inferno. – sussurrou no ouvido no coronel.
            - O mesmo para você.
            O velho olhou para capitão e silenciosamente e deu a ordem para atirar. Enquanto sua mãe gritava, o negrinho fechou os olhos e partiu ao encontro de Maria.
            Lá no céu, um bando de urubus voava em círculos. E há quem diga que uma bela gralha pousou no topo do tronco e gritou seu nome.

ISMÁLIA

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ISMÁLIA

ALPHONSUS GUIMARÃES



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...